Bukowski e as boas histórias | Luiz Rebinski Junior | Digestivo Cultural

busca | avançada
101 mil/dia
2,0 milhões/mês
Mais Recentes
>>> João do Rio e Chiquinha Gonzaga brilham no Rio durante a Belle Époque
>>> Espelhos D'Água de Vera Reichert na CAIXA Cultural São Paulo
>>> Audiovisual em alta: inscrições para curso de Roteiro de Curta-metragem do Senac EAD estão abertas
>>> Espaço8 aberto no feriado 1º de Maio com duas exposições
>>> Bela Vista Cultural | 'Saúde, Alimento & Cultura'
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
>>> Esporte de risco
>>> Tito Leite atravessa o deserto com poesia
>>> Sim, Thomas Bernhard
Colunistas
Últimos Posts
>>> The Piper's Call de David Gilmour (2024)
>>> Glenn Greenwald sobre a censura no Brasil de hoje
>>> Fernando Schüler sobre o crime de opinião
>>> Folha:'Censura promovida por Moraes tem de acabar'
>>> Pondé sobre o crime de opinião no Brasil de hoje
>>> Uma nova forma de Macarthismo?
>>> Metallica homenageando Elton John
>>> Fernando Schüler sobre a liberdade de expressão
>>> Confissões de uma jovem leitora
>>> Ray Kurzweil sobre a singularidade (2024)
Últimos Posts
>>> Uma coisa não é a outra
>>> AUSÊNCIA
>>> Mestres do ar, a esperança nos céus da II Guerra
>>> O Mal necessário
>>> Guerra. Estupidez e desvario.
>>> Calourada
>>> Apagão
>>> Napoleão, de Ridley de Scott: nem todo poder basta
>>> Sem noção
>>> Ícaro e Satã
Blogueiros
Mais Recentes
>>> O Presépio e o Artesanato Figureiro de Taubaté
>>> A cidade ilhada, de Milton Hatoum
>>> Terapia reloaded
>>> Regras da Morte
>>> Millôr Fernandes, o gênio do caos
>>> O fim da gravadora EMI
>>> Ele, Cardoso
>>> A morte de Gilberto Dupas
>>> Palavra na Tela – Literatura
>>> Kafka lendo/sobre Goethe
Mais Recentes
>>> Poesia Marginal de Ana Cristina Cesar pela Ática (2011)
>>> Speaker Talent de Literare Books pela Literare Books (2021)
>>> A Casa Vazia de Rosamunde Pilcher pela Bertrand Do Brasil - Grupo Record (2005)
>>> Proclamar libertação - auxílios para o anúncios do evangelho 26 de Sinodal pela Sinodal (2000)
>>> Escute seu Coração de Fern Michaels pela Bertrand Brasil (2008)
>>> Solstício De Inverno de Rosamunde Pilcher pela Bertrand Brasil (2001)
>>> Safári de Estratégia de Henry Mintzberg/ Bruce Ahlstrand / Joseph Lampel pela Bookman (2000)
>>> Gol! de Robert Rigby pela Record (2005)
>>> Meu Primeiro Dicionário de Douglas Tufano pela Paulus (2005)
>>> Ameaça nas trilhas do tarô de Sérsi Bardari pela Atica (1992)
>>> Recomeços de Danielle Steel pela Record (2003)
>>> Lições De Princesa de Meg Cabot pela Galera Record (2005)
>>> O jovem e suas conquistas de Martín Valverde pela Raboni (2005)
>>> Almas Gemêas: Aprendendo A Identificar O Amor Da Sua Vida de Monica Buonfiglio pela Oficina Cultural Monica B (1995)
>>> Escrituras que curam de Kenneth E. Hagin pela Do autor (1999)
>>> O Monte Cinco de Paulo Coelho. pela Objetiva (1996)
>>> Contabilidade de instituições financeiras de Aldomar Guimarães pela Freitas Bastos (2007)
>>> Ler é aprender Castro Alves Espumas flutantes de Estadão pela Estadão
>>> O poeta.com de Ladisael Bernardo pela Do autor (2009)
>>> 1984 George Orwell de George Orwell pela Globo Livros (2021)
>>> A lógica da história de Charles Morazé pela Difusão Europeia do Livro (1970)
>>> Historias Para Aquecer O Coração Das Mães de Jack Canfield, Mark Victor Hansen, Jennifer Read Hawthorne, Marci Shimoff pela Sextante (2002)
>>> O tempo da beleza de Letícia Casotti pela Senac (2008)
>>> Confessions of An English Opium Eater de Thomas de Quincey pela Penguin Books (1997)
>>> Quando O Amazonas Corria Para O Pacifico: Uma Historia Desconhecida Da Amazonia de Evaristo Eduardo De. Miranda pela Vozes
COLUNAS

Quarta-feira, 15/10/2008
Bukowski e as boas histórias
Luiz Rebinski Junior
+ de 9600 Acessos

Desde a edição de Cartas na rua, publicada pela editora Brasiliense em 1983, Charles Bukowski tem sido um escritor prestigiado no Brasil, principalmente pelos leitores. De lá para cá, o velho safado, como é conhecido, ganhou uma tardia, mas importante, revisão de sua obra. Prolífico, Bukowski escreveu e publicou muito, fato louvável quando se leva em consideração que só foi escritor em tempo integral depois que saiu do trabalho que tinha nos correios, aos 49 anos. Antes disso, além do formato convencional dos livros, Bukowski publicou muitos trabalhos em livretos e inúmeras revistas literárias de pequeno porte.

É o caso dos contos reunidos em Ao sul de lugar nenhum ― Histórias da vida subterrânea (L&PM Editores, 2008, 224 págs.), publicados em livro pela primeira vez em 1973 com o nome de South of the north, mas que já circulavam em revistas de literatura no fim dos anos 60 e começo dos 70. Com uma prosa direta e sem floreios, as 27 narrativas da coletânea trazem a galeria de tipos que Bukowski se acostumou a chamar de seus. Bêbados, prostitutas e mendigos são os protagonistas de histórias que falam de desilusão, pobreza, sexo, desemprego e vício. Espécie de messias de um american way of life às avessas, em que a esperança só dura o tempo de um bom pileque, Bukowski fez de experiências pessoais o traço mais marcante de sua prosa. Na pele de seu alter ego Henry Chinaski, o escritor conquistou o público leitor com histórias cruas, de enredo pouco engenhoso, mas que cativam pela simplicidade e espontaneidade com que são contadas, quase sempre terminando de modo abrupto e sem o fator surpresa que caracteriza o gênero conto.

Como um bom comediante, Bukowski não poupa nada nem ninguém. A predileção pelo contraditório e o desprezo pelo consenso se tornam elementos-chave, quase que matéria-prima, para sua narrativa. Afinal, só um espírito anárquico para ousar escrever um conto colocando-se como defensor de Hitler, ainda que apenas de pilhéria.

"No City College de Los Angeles, logo antes da Segunda Guerra Mundial, eu me fazia de nazista. Mal sabia distinguir Hitler de Hércules, mas não me importava nem um pouco. O negócio é que ficar na sala de aula ouvindo todos aqueles patriotas discursando sobre como deveríamos atravessar o oceano e acabar com tudo aquilo me entediava profundamente. Decidi fazer oposição. Não me dava sequer ao trabalho de ler sobre Adolf, simplesmente vomitava qualquer coisa que me parecia maléfica ou insana", escreve o apolítico Bukowski em "Política", conto que mostra todo o seu desprezo pelas ideologias, o que lhe valeu a pecha de "alienado".

Sob o signo da liberdade de criação, Bukowski vai fundo em temas que beiram o ridículo e flertam com o cômico. Cria, assim, a seu bel-prazer, histórias sobre homens que se apaixonam por bonecas infláveis ("Amor por $17,50") e mulheres que andam com seres humanos em miniatura para saciar o desejo sexual ("Nenhum caminho para o paraíso"). Acerta a mão também em histórias de tom menos pessoal, como "Matador" e "Os assassinos", em que o sexo dá lugar ao noir.

O biografismo não era apenas um recurso em sua ficção, mas uma opção e um desejo consciente de transformar uma vida errante em boa literatura. É famosa a frase em que o escritor afirma que noventa e três por cento de sua obra eram autobiográficos, e os sete por cento restantes também eram sobre sua vida, só que "melhorados". E nos contos de Ao sul de lugar nenhum a afirmação parece bastante crível. Em "Um despachante de nariz vermelho", uma das melhores histórias do livro, Bukowski conta a trajetória de um poeta americano, bêbado e escrachado, que somente depois da maturidade teve seu trabalho literário reconhecido.

"Randall começou a escrever com 38 anos. Com 42, depois de três pequenos livros de contos ('A morte é uma cadela mais suja que o meu país', 'Minha mãe trepou com um anjo' e 'Os cavalos desenfreados da loucura'), estava começando a receber o que pode se chamar de reconhecimento da crítica. Mas não ganhava grana com seus textos".

A semelhança entre o poeta Bukowski e o personagem Randall não é mera coincidência. Assim como o fictício Randall, Bukowski só passou a se dedicar à literatura quando seu editor, John Martin, ofereceu-lhe um salário de cem dólares para que apenas produzisse literatura. Mas, como escreve Howard Sounes, um de seus biógrafos, em Charles Bukowski: Vida e loucuras de um velho safado, "ainda que possa ter sido extraordinariamente franco como escritor, um exame cuidadoso dos fatos de sua vida leva-nos a questionar se, para tornar-se mais picaresco para o leitor, ele não 'melhorou' sua história de vida muito mais do que afirmou".

Ao virar ele mesmo um personagem, que se esconde atrás do beberrão Chinaski, Bukowski escolheu bem como e de que forma seria conhecido, fazendo previamente o roteiro de sua trajetória e arquitetando os traços de sua personalidade. Apesar da espontaneidade de seu discurso, o Bukowski visto na pele de Chinaski é também parte de uma invenção ― algo como um personagem dentro de outro personagem. Diferentemente do rude Henry Chinaski, Bukowski era um homem quase culto, que apreciava música clássica e era leitor de escritores que faziam parte do primeiro time das letras americanas, como Ezra Pound, Ernest Hemingway, John dos Passos, Walt Whitman e Robinson Jeffers, este último seu poeta preferido.

E foi exatamente esse misto de erudição e escracho ― que atinge seu ápice em "Foi isso que matou Dylan Thomas" ― que fez de Bukowski um escritor singular. A mistura aparentemente antagônica entre a alta cultura e o rasteiro linguajar das ruas adquire uma forma bastante natural na prosa do escritor. Naturalidade que muitos de seus imitadores, que no Brasil se proliferaram com intensidade impressionante, não têm.

Mesmo sem ser um escritor brilhante, Bukowski fez de suas limitações intelectuais uma espécie de trunfo, dando origem a uma prosa rápida, econômica e irresistivelmente gostosa de ler. Uma ficção sem amarras, livre de conceitos e maneirismos estéticos, apenas preocupada em contar uma boa história.

Nota do Editor
Leia também "Quixotes de Bukowski".

Para ir além






Luiz Rebinski Junior
Curitiba, 15/10/2008

Mais Luiz Rebinski Junior
Mais Acessadas de Luiz Rebinski Junior em 2008
01. O jornalismo cultural no Brasil - 2/1/2008
02. Bukowski e as boas histórias - 15/10/2008
03. Despindo o Sargento Pimenta - 16/7/2008
04. Dobradinha pernambucana - 23/1/2008
05. O óbvio ululante da crônica esportiva - 27/8/2008


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




A Mediação na Solução das Questões Ambientais no âmbito do Ministério
Marcelo Lemos Vieira; Daury Cesar Fabriz
Appris
(2019)



À procura do homem de Pequim
Christopher G. Janus & William Brashler
Civilização Brasileira
(1977)



Blade a Lâmina do Imortal 4
Hiroaki Samura
Jbc
(2016)



Diário da manhã
Josué Montello
Nova Fronteira
(1984)
+ frete grátis



Livro Literatura Estrangeira Escolhida Série House of Night Livro 3
P. C. Cast; Kristin Cast
Novo Século
(2009)



Livro Infanto Juvenis Adventure Time Volume 2
Chris Houghton
Titan Comics
(2013)



A Civilização Democrática - Biblioteca de Ciências Sociais - Vol II
Leslie Lipson
Zahar
(1966)



Amar e Ser Livre As Bases para uma nova Sociedade
Sri Prem Baba
Dummar
(2015)



Conecte História: segunda e terceira parte + cadernos de comp revisão
Ronaldo Vainfas; Faria; Ferreira; Santos
Saraiva
(2014)



Sistemas de Ensino e Políticas Educacionais no Brasil
Marcos Cordiolli
Ibpex
(2023)





busca | avançada
101 mil/dia
2,0 milhões/mês